domingo, 28 de fevereiro de 2010

O ambiente sócio-moral e sua influência no desenvolvimento infantil.

O ambiente sócio-moral e sua influência no desenvolvimento infantil.

Conforme prometi seguem mais alguns conceitos do livro Ética na Educação Infantil, o ambiente sócio-moral na escola, de Rheta DeVries e Betty Zan. Podemos começar definindo o que significa o termo sócio-moral no livro. Sócio diz respeito às convenções sociais, regras de boa educação que regem o comportamento dos indivíduos de uma sociedade. Moral é o respeito às idéias e desejos do outro. A criança sócio moral não é aquela que obedece cegamente os adultos, a criança moral é aquela que segue as regras conscientemente em respeito aos que convive. Quando alguém segue essas regras fica difícil saber se a intenção é evitar punições e receber elogios ou é respeito e consideração pelos indivíduos com os quais convive. Por isso o termo é inseparável.
A criança pequena entende as regras de acordo com o seu nível intelectual e sua experiência através da convivência, dentro da família e na escola. Dentro da família ela aprende as regras privadas do grupo familiar. Não é sempre que as regras privadas coincidem com as regras do espaço público. Por exemplo, cada família tem suas próprias regras para a hora da refeição, pode-se comer com o prato na frente da TV, dentro do quarto, individualmente, a qualquer hora que se sinta fome, na mesa com os outros, lendo o jornal, etc... Já no âmbito privado, as regras à mesa são claras e rígidas. Portanto nem sempre se aprende todas as regras sociais em casa. É na escola que a criança convive com seus iguais, hierarquicamente falando. E, para que esse grupo maior e de direitos iguais, possa conviver bem é preciso combinar regras. É nessa negociação que começa a aprendizagem sócio-moral. É na hora da conversa, do infantil até o fim do ensino fundamental, que os alunos podem ser auxiliados a cooperar e a negociar. Como eles têm dificuldade em se colocar no lugar do outro, é na conversa que cada um conta ao outro como se sente em relação às brincadeiras de “mau gosto” ou à exclusão de uma brincadeira ou às fofocas maledicentes e combinam regras sobre estes assuntos e outros como: o uso dos materiais da sala, ambiente na hora do trabalho, e muitas situações que convivem com o cotidiano de uma classe. Esses aspectos, se não resolvidos, podem influir na aprendizagem acadêmica, portanto, quando surge um conflito, longe de entregar para alguém fora da sala resolver pensando em por para longe o que pode atrapalhar a aula, deve-se encará-lo de frente. Quase sempre é necessário resolver o problema conversando sobre ele e aproveitando para permitir que os alunos exercitem a construção da moral.
Fazendo um parênteses, uma forma de controlar o ambiente escolar para esses momentos de construção da moral é promovendo assembléias escolares, essa é a minha experiência pessoal há cinco anos, promovendo assembléias do 2º ao 9º ano. Tema do professor Ulisses Araújo, da PUC de Campinas, e com quem apuramos uma prática que exercíamos desde o início dos anos 90, através de suas publicações e de sua palestra em São José dos Campos em 2005. Construtivistas desde 1986, sempre entendemos a moral como um objeto de conhecimento, com o qual o aluno precisa interagir de forma curricular, assim como interage com a língua escrita e a matemática. “A moralidade se constrói assim como o conhecimento do mundo físico” e este é um dos paralelos entre os estudos das autoras e as pesquisas do desenvolvimento moral de Piaget.
A sugestão das autoras é a Roda da Conversa, momento em que decidem, combinam regras e discutem dilemas morais, não com o intuito de resolvê-los, mas para exercitar a argumentação e ouvir opiniões divergentes.
Piaget definiu moral como “um sistema de regras internalizado, e que o indivíduo segue como um princípio necessário para a vida em sociedade”. Voltando ao livro, para chegar ao grau máximo de internalizar essas regras como um valor, será preciso passar pelos níveis que Selmam, 1980, elaborou sobre o trabalho de Piaget . Esses níveis, vão da perspectiva egocêntrica (incapaz de pensar em outro ponto de vista que não o seu próprio) ao domínio do entendimento interpessoal. O professor tem como trabalho conhecer esses níveis e intervir para que o aluno progrida para um nível superior.
Selmam chamou de níveis e não estágios porque ao contrário do conhecimento físico, o indivíduo sempre poderá regredir ao nível inferior dependendo da carga afetiva envolvida. Ao professor cabe ajudar os alunos tanto na explicitação do conflito, aos quais muitas vezes falta clareza, quanto a guiá-los nas decisões do grupo, explicitando aquelas que fogem ao bom senso. “Neste ambiente o professor pede, sugere, persuade, ao invés de dizer, mandar, controlar”. A medida certa entre guiar co-operando e guiar mandando é a dificuldade deste trabalho, para o qual, há de se ter um perfil que reflita um real comprometimento com a teoria.

A influência deste ambiente no desenvolvimento da criança conforme fundamentam as autoras, é que “quando os adultos permitem que as crianças pensem e decidam sobre as regras, ajudam no desenvolvimento de um “self”(noção de si mesmo) seguro e estável” enquanto que o ambiente escolar coercitivo, cheio de regras autoritárias, “propicia indivíduos inseguros, sem autonomia, que podem reagir com submissão, raiva ou dissimulação, por não entenderem as crenças e os valores das regras que lhe são impostas. A coerção limita a mente, personalidade e sentimentos das crianças”.

O ambiente escolar deve propiciar um ambiente sócio-moral construtivista, fortemente embasado em conhecimento teórico. Só a nossa aprendizagem sobre a construção da moral, será capaz de quebrar um paradigma, construído através de anos em escolas que negavam o relacionamento entre alunos.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

O que vem a ser ambiente sócio-moral na escola.

Não tendo desculpa para tamanha ausência de textos vou tentar me redimir com a resenha de novas releituras.
Sem prometer tamanha disciplina, me atrevo a dizer que segue a primeira.

É muito bom ter novos desafios, no final do processo você sempre sairá modificado por novos conhecimentos. Mas também é muito bom quando você lê sobre um tema que você já conhece, desenvolve um trabalho e a leitura dá nomes e cita experimentos que comprovam que estamos no caminho certo há muitos anos.

Foi o que aconteceu com a leitura do livro a Ética na educação infantil, o ambiente sócio-moral na escola, de Rheta DeVries e Betty Zan, um livro que li e resumi para dar aula em cursinho para concurso de professores.

Ao tomar conhecimento deste livro na bibliografia do concurso já fiquei muito feliz porque sempre acreditei ser este ,um tema fundamental para qualquer educador que se atualiza. Parabenizo os organizadores da bibliografia quanto, não só este, como todo o conteúdo exigido, muito embora, por experiência no trabalho com professores, este conteúdo bibliográfico, por representar uma mudança no paradigma escolar, leve mais de uma década para ser inteiramente compreendido e quiçá um dia ser incorporado à prática de um educador.

As autoras são seguidoras de Piaget, produzindo literatura a respeito de assuntos que contribuem para a prática construtivista, que eu conheça, desde a década de 80. Este livro é de 1994. Eu já o possuía e havia feito uma leitura casual, mas ele, como todos os livros construtivistas, têm que ser lido com profundidade.



Deixando de lado as considerações, vou tentar escrever sobre a idéia central deste livro genial de trezentas e poucas páginas.

O que vem a ser ambiente sócio-moral na sala de aula?

Trata-se de um ambiente proporcionado pala postura do professor, que se propõe a respeitar o aluno física, emocional e intelectualmente.
O ambiente que respeita o aluno fisicamente é aquele adequado as suas necessidades fisiológicas como por exemplo comer, ir ao banheiro, repousar, referentes a faixa etária, aos cuidados ambientais adequados em todos os sentidos ( organização, higiene, clima, espaço, mobiliário, iluminação, etc...). É incrível a dificuldade dos professores em permitir ao aluno ir ao banheiro quando este solicita.

O ambiente que respeita emocionalmente é aquele que permite e incentiva o aluno a falar de seus sentimentos no seu nível de desenvolvimento, e que o professor conheça a teoria de desenvolvimento sócio-moral e possa intervir adequadamente para que o aluno progrida para um nível superior. Este ambiente inclue aceitação incondicional, inclusive da criança “difícil” ( considerada pela autoras aquela que coloca os outros em perigo e perturba as atividades da aula), empatia e regras claras. Longe de ser um ambiente de liberdade total porém sem dúvida um ambiente democrático, uma vez que permite, sob a tutela do adulto, que as crianças pensem e deliberem sobre suas próprias regras. O termo sócio-moral combina as regras sociais ou convencionais de boa educação com o termo moral entendido como o respeito aos sentimentos e desejos dos outros; assim como o cumprimento das regras como necessidade para a boa convivência.

Respeitar o aluno intelectualmente, quer dizer, conhecer o estágio de desenvolvimento cognitivo de seu aluno e propor atividades adequadas, conhecendo o raciocínio infantil e fornecendo a base para o seu desenvolvimento. Para isso o educador deve conhecer a teoria de Piaget tanto no que diz respeito ao sujeito que aprende quanto à hierarquia de conhecimento do objeto de aprendizagem, do qual ele será mediador na interação sujeito-objeto.

Mas, o mais importante é que ao proporcionar um ambiente sócio-moral estaremos auxiliando a formar um indivíduo autônomo, finalidade de toda a educação. Este sujeito será ativo moral e intelectualmente, autor da própria aprendizagem, numa progressão apenas imaginável no sonho de um educador.

Para Piaget, o ambiente que permite pensar e decidir sobre as regras ajudam, no desenvolvimento de um self ( noção de si mesmo) seguro e estável, ao contrário do ambiente autoritário, onde o professor detêm o saber e o aluno espera dele o sinal para aprender, que propicia indivíduos inseguros, heterônomos (regulados por outrem) que podem reagir com submissão, raiva ou dissimulação.
Bom, agora que já foi dito “o quê” e o “porquê”, resta o “como” fazer isto em sala de aula.
Como trabalhar isso no dia-a-dia?


Pra quem não conhece e não pode fazer uma visita na escola EMAK, resta esperar um novo texto, sem o qual o livro que me propus relatar permaneceria injustamente incompleto.