domingo, 29 de agosto de 2010

Diferenças entre a postura de ensino conhecida por "ensino tradicional" e a postura de ensino chamada de "construtivismo".

Diferenças entre a postura de ensino conhecida por "ensino tradicional" e a postura de ensino chamada de "construtivismo".

Este ensaio não tem a pretenção de esgotar o assunto que o título propõe.
Trata-se de um resumo feito para uma reportagem que saiu no Vale Paraibano ( jornal local).
Na ocasião o reporter me perguntou:
Qual é a diferença entre o método tradicional e o método construtivista?
Para essa pergunta eu sempre começo explicando que o construtivismo não tem um método, mas uma filosofia de educação que se reflete na postura de quem ensina.
Um método pressupõe ações padronizadas, que atingem determinados objetivos, mas nem sempre, no ensino, estas ações vem acompanhadas de uma teoria que as fundamentem.
Esse é o caso da prática que conhecemos por "tradicional".
Já a postura construtivista é uma interpretação do profissional do ensino, baseada em teorias que estudam os processos do ensino- aprendizagem. É uma transformação pessoal da teoria em prática. Dai talvez algumas práticas bem intencionadas mas inadequadas a visão de conhecimento interacionista.
Após 26 anos neste esforço de uma prática coerente com as teorias da psicologia do desenvolvimento de Piaget, o sócio-construtivismo de Vygotsky, os conteúdos da reforma de Cesar Coll, e outros inúmeros e não menos importantes teóricos do ensino-aprendizagem, pude ousar fazer a tabela abaixo que coloco à disposição daqueles que se interessam e/ou estudam o assunto para críticas e sugestões.










domingo, 30 de maio de 2010

Sobre o texto de Rosely Sayão

Escola “transbordante”.

A minha colega psicóloga, Rosely Sayão, colunista da Folha de São Paulo ás quintas-feiras no caderno Equilíbrio, e a quem tanto admiramos, escreveu um texto polêmico em sua coluna do último dia 29/04/10.
Polêmico porque se propôs a delinear as responsabilidades das partes (escola e família) no desempenho escolar das crianças.
No texto ela pede “perdão às mães” falando em nome de “muitas” escolas que culpam os pais das dificuldades dos filhos (segundo ela, por não sabermos ensinar alunos que não sejam exemplares)
Culpa também as escolas por informarem demais os pais sobre assuntos do comportamento de aluno que, segundo ela, deveriam ser tratados exclusivamente entre escola e alunos.
Concordo com ela, em parte, mas sou obrigada a concordar mais com o conteúdo em si e menos com o peso maior dado para apenas uma das partes envolvidas num relacionamento que já sabemos ser complicado por ser carregado de afeto.
Embora se espere que uma das partes seja estritamente profissional, é lógico que o professor tem seus medos do fracasso como qualquer ser humano. Hoje em dia com a escola arcando com a responsabilidade em formar a cidadania de seus alunos, com tudo o que esse conceito inclui, ou seja, para ser professor não basta mais ser apenas ser especialista em sua área curricular.
Como Antonio Nóvoa, grande pensador português disse em sua palestra no último Congresso Saber, a escola agora é “transbordante”, deve ser cheia de projetos e dar conta de cada vez mais conteúdo. Segundo ele “precisamos parar de pensar que a escola vai salvar o mundo”.
Houve uma mudança de paradigma nos conteúdos escolares que, como toda a mudança de valor envolve uma mudança pessoal por parte do professor. Isto não acontece do dia para a noite e muito menos por decreto. É compreensível que neste momento o professor se sinta inseguro. Os pais por sua vez, com cada vez menos tempo, enfrentando uma luta diária pela sobrevivência, não têm tempo para aprender a serem pais. A escola do filho passou a ser um fardo a mais e cabe a nós, educadores aliviá-los deste cargo.
Calma lá, a Cesar o que é de Cesar, ou melhor lembrando, os antigos tinham um ditado que dizia que aos pais cabe a responsabilidade de “embalar Mateus” mas não seria elegante reproduzi-lo neste texto.
A virtude esta no meio termo. O aluno não deve ser tratado como uma “batata quente” que ninguém quer segurar. É isto que está em jogo. Por outro lado, se todos nós nos responsabilizarmos pela sua vida escolar ele poderá se dar ao luxo de ficar irresponsável, é isso que acontece enquanto pais e escolas se culpam.
Portanto, os educadores devem refletir sim, não só sobre isso como ela pede em seu texto, mas sobre cada fundamentação de sua ações, assim como as família devem se responsabilizar sobre a sua parte.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

O olhar da mãe conduz a aprendizagem.

O olhar da mãe conduz a aprendizagem.

Não aprendemos de qualquer um, aprendemos de quem confiamos.

O homem é o único animal que não herda padrões instintivos que possa garantir a sobrevivência. A sua herança genética maior é a capacidade de aprendizagem .
Somos da única espécie animal que se molda ao grupo com o qual convive, seja ele primitivo ou desenvolvido tecnológicamente.
Um LOBO sempre será um LOBO, mesmo que nunca conviva com outros da mesma espécie, e mesmo que seja criado por homens. Um homem poderá ser um “lobo”, se criado entre eles, o caso do “menino lobo” é verdadeiro.
É a aprendizagem da cultura que nos garante a preservação da espécie mas é a nossa capacidade de modificá-la, a partir da nossa individualidade , que é a mola das transformações sociais.
Segundo Alicia Fernandez, é a nossa individualidade, um organismo ( potencial genético) que em interação com o meio constrói imagens, sensações, a inteligência e as emoções, tornando-nos únicos, assim como a nossa interpretação do mundo . Quando percebemos a mesma realidade subjetiva de alguém sentimos que tivemos um verdadeiro encontro.
Mas o primeiro encontro se dá com o olhar da mãe. Descreve Sara Paim “Tudo começa na triangulação do primeiro olhar. No primeiro momento, a mãe busca os olhos da criança e a criança busca seus olhos; aqui há o encontro necessário para que haja aprendizagem, mas logo a mãe olha para outro lado. Seus olhares encontram-se em um objeto comum” E é esse objeto comum que desperta a nossa curiosidade.
Durante muito tempo a mãe, ou as pessoas que exercem a maternagem, serão responsáveis por dirigir este olhar, e a criança começará a gostar das coisas que essas pessoas gostam. O afeto é a mola do intelecto. Nossa inteligência não é só razão.O objeto que escolhemos para “apreender e conhecer” é guiado pelo afeto, por aquilo que valorizamos porque aprendemos a valorizar.
É por isto que se diz que aprendemos muito mais pelo exemplo do que pelas palavras. E também é por isto que se diz “filho de peixe, peixinho é ....”.
Essa força é muito poderosa e é assim que entendemos famílias inteiras que se dedicam ao mesmo ramo de atividades .É por isso que será muito difícil para pais que não gostam de ler, transformar seus filhos em grandes leitores ou pais que não valorizam atividades físicas, terem filhos atletas.
Mas como o ser humano é capaz de modificar-se, assim também nossos filhos não estão presos a um destino determinista por conta das nossas limitações. Apesar delas e não eximindo a nossa parte de responsabilidade, eles com certeza nos superarão.

domingo, 18 de abril de 2010

As sanções Construtivistas.

As sanções Construtivistas.

“Os professores construtivistas não “disciplinam” as crianças no sentido de controlá-las ou puni-las. Ao invés disso, as alternativas construtivistas a esse tipo de disciplina centram-se em estratégias de apoio à construção pelas crianças, de convicções sobre o relacionamento cooperativo com outros. A distinção de Piaget entre sanções expiatórias e por reciprocidade é a base para o planejamento das reações a maus atos.”
O trecho acima foi retirado do livro A ética na educação infantil, a que já me referi em outros textos já publicados aqui. Este conceito expresso neste pequeno texto é a base da “metodologia” da construção da moral, entendendo método como o fazer no dia-a-dia diante do comportamento inadequado do aluno ou filho.
Como lidar com o comportamento agressivo, insensível, desobediente, descontrolado e outros?
Alem de combinar regras, o que fazer quando elas forem ignoradas?
A teoria propõe que vigiemos nossas ações para que elas não tenham uma postura expiatória, ou seja que elas não tenham a intenção de fazer a criança pagar pelo que fez e a nossa postura transpire a de um executor. Uma vez submetida a pena expiatória ( similar ao antigo ajoelhar no milho) a criança sente que já não deve mais nada, expiou sua culpa, pode fazer de novo. A consciência do mal praticado por ela fica por conta do adulto, não permitindo que ela desenvolva um raciocínio moral autônomo.
A postura construtivista deve ser em primeiro lugar calma, para que a criança realmente perceba que estamos apenas cumprindo uma regra que foi combinada de forma clara e que é conseqüência da ação da própria criança. Só ela é responsável por aquela sanção, quando muito podemos ser apenas solidários com o erro infantil, mas sem deixar de aplicar a sanção por reciprocidade. Essas sanções podem ser:

1 – Conseqüência naturais (a privação resulta diretamente da ação, (quebrou ou perdeu)
2 – Compensações (consertar ou substituir)
3 – Privar o transgressor do objeto mal-usado ( um brinquedo, computador, etc)
4 – Exclusão do grupo até que consiga seguir as regras do mesmo. ( do jogo ou da atividade)
5 – Fazer à criança o mesmo que ela fez. (só no caso de recusar ajuda-la)
6 – Censura ( para que perceba a transgressão do vínculo de solidariedade decepcionando)
Na escola, a fim de deduzirem a possibilidade de as crianças sentirem as conseqüências como arbitrárias e punitivas, os professores construtivistas seguem nove diretrizes que protegem a autonomia das crianças. ( em casa podem ser adaptadas)
1 – Evite sanções expiatórias
2 – Encoraje a associação lógica das conseqüências
3 – Quando as crianças sugerirem uma conseqüência muito severa para o amigo peça para que o transgressor diga o que sente e apóie esse sentimento
4 – Verbalize a relação de causa-efeito, quando ocorrem conseqüências naturais.
5 – Permita seletivamente, a ocorrência de conseqüências naturais. ( ex.: tratar do amigo que machucou)
6 – Ofereça oportunidades para a compensação. (Consertar o que fez)
7 – Quando a exclusão é utilizada, abra caminho para a readmissão.
8 – Quando as crianças excluem outras, ajude o excluído a encontrar um modo de reingressar na brincadeira e melhorar a relação com os companheiros
9 – Evite conseqüências indefinidas Ex.: a exclusão de um aluno da próxima excursão pode ser planejada de forma que em outra mini excursão ele retoma a confiança de que seguirá regras.

Posso testemunhar a eficácia dessa postura após anos de aperfeiçoamento na utilização desta prática. A disciplina encarada como a construção da moral pelo aluno é uma forma feliz de convivência entre todos os envolvidos no processo ensino aprendizagem.

domingo, 11 de abril de 2010

avaliações

  • As avaliações Bimestrais

    A EMAK, define sua proposta de avaliação, através da análise de novos modelos de avaliações feitas pelo ENEM, SARESP, e outras. Nossa proposta não tem como objetivo preparar o aluno para “uma” avaliação, mas prepará-lo para as avaliações que enfrentará no futuro. Para isso, nossa equipe vem estudando os teóricos do assunto, como Philippe Perrenoud, Edgar Morin, César Coll.
    As mudanças na educação para o novo milênio são uma “imposição”da UNESCO no sentido de promover o desenvolvimento de um ser humano inteligente que resguarde a vida no planeta. Segundo a UNESCO, para tal a educação baseia-se em quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer , aprender a ser e aprender a conviver.
    A avaliação como instrumento pedagógico surgiu por volta do séc. XVII e tornou-se indissociável do ensino. Segundo Perrenoud “A avaliação inflama necessariamente as paixões, já que estigmatiza a ignorância de alguns para melhor celebrar a excelência de outros. Quando resgatam suas lembranças de escola, certos adultos associam a avaliação a uma experiência gratificante, construtiva: para outros, ela evoca, ao contrário, uma sequência de humilhações.
    Tornando-se pais, os antigos alunos têm a esperança ou o temor de reviver as mesmas emoções de seus filhos.”

    Estando os pais envolvidos através do resgate dos afetos e desafetos, optamos por enviar sugestões fundamentadas para que, nesse momento de “paixões”, decidam da melhor forma, amparados em dados objetivos:

    · Os novos modelos de avaliação dão ênfase na aferição das estruturas mentais com as quais construímos continuamente o conhecimento e não apenas na memória que, importantíssima na constituição de nossas estruturas mentais, sozinha não consegue fazer-nos capazes de compreender o mundo;

    § O desenvolvimento destas estruturas mentais NÃO SE CONSEGUE DE UM DIA PARA O OUTRO (de véspera).

    § Diariamente são propostas atividades em sala que, no conjunto, visam este desenvolvimento. O ALUNO DEVE SER ATIVO NESSAS ATIVIDADES.

    § Para “estudar” adequadamente, o aluno deve desenvolver o hábito de estudo diário, reservando uma hora marcada do seu dia para tarefas escolares ou leitura.

    § A leitura compreensiva é a competência básica que permeia todas as demais, portanto deve ser incentivada pela família e pela escola.

    § Desta forma, mantendo essas perspectivas, com ajuda da família, o aluno que não tem dificuldades específicas não precisará estudar exaustivamente na véspera das provas.


    Como ajudar seu filho a estudar para as provas

    Um bom rendimento escolar começa, naturalmente, pela postura em sala de aula. Alguns alunos às vezes pensam que é possível recuperar em casa, individualmente, o tempo perdido em aula mal assimilada. Nada mais equivocado. O processo de aquisição do conhecimento não se desenvolve plenamente de modo individual, porém aprender o método de estudar é uma tarefa solitária, e pessoal. Cada pessoa sabe qual é a sua forma mais eficiente de desenvolver sua própria técnica de memorizar, relacionar e compreender. Pergunte ao seu filho como ele aprende. Assim você o estará ajudando a desenvolver seu método pessoal de estudo.
    Aos pais cabe fornecer o material necessário, local adequado e, apenas em algumas situações excepcionais, orientar o estudo. Às vezes, é importante esperar que o aluno tente através de seus próprios recursos, pois a confiança e a autonomia são companheiras indissociáveis.
    Não subestime seu filho, fazendo tudo por ele. Isto o tornará dependente e inseguro. Aprender, assim como andar, comporta facilitadores, mas só o próprio indivíduo pode fazer.
    Oriente-o, se for possível, apenas no que diz respeito a:

    · marcar hora do início e do fim do estudo ( nunca menos de uma hora);
    · estar bem acomodado (cadeira e mesa, nunca na cama);
    · escolher um local bem iluminado e longe da movimentação da casa;
    · não interromper com telefonemas ou respondendo e-mails...;
    · dispor do material necessário (livros e cadernos);
    · pedir ajuda excepcionalmente e “se” necessário;
    · refletir sobre o relatório de ocorrências e suas conseqüências;
    · não mudar o horário de estudo;
    · não propor trocas ou “barganhas”
    · combinar regras claras e do conhecimento de todos;
    · se não tiver trabalho e/ou tarefas, manter o horário de estudo, e ocupar-se com livros, gibis ou jogos educativos.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Dia Internacional da Mulher nos propõe reflexão sobre a nossa vida.

Dia 8 de março chegou e com ele, uma pausa nos textos sobre psicopedagogia e a reflexão sobre o dia internacional da mulher. Para muitas pessoas em uma análise superficial, a data é inútil, servindo só para maior discriminação da mulher. Mas essa idéia não sobrevive a uma análise mais profunda. Se levarmos em conta as exigências a que as mulheres “modernas” se submetem, veremos que muitas vivem quase um autoflagelo. Incentivadas pela mídia e pela cultura paternalista e tradicional, as mulheres modernas tem que dar conta da beleza, da “eterna” juventude, da carreira, dos filhos, da casa e da participação política. Continuam a ganhar menos que os homens, estudam mais, se exercitam mais, se embelezam mais e, como se tudo isso não bastasse, limpam, fazem compras e cozinham mais. O resultado é uma ansiedade infinda por ter abraçado uma missão impossível.
O dia internacional da mulher é importante sim, importante para que cada uma de nós faça uma\ reflexão sobre essa necessidade de atender a essas múltiplas tarefas.
Quem?(Se não nós mesmas) nos obriga a essa maratona? Porque não nos propomos dividir mais? Será para não perder o poder doméstico? Será para poupar filhos e maridos? E fora do lar, porque não exigimos salários iguais e creches e escolas em período integral?
Quem nos colocou na posição de cidadãs de segunda classe? Quando discuto com meus alunos sobre auto-estima costumo pedir que interpretem a afirmação: “Ninguém poderá fazer você se sentir inferior, a menos que você esteja de acordo” Será que temos um problema de baixa auto-estima? Se isso for real, quanto ele é cultural e quanto será pessoal?
Nas buscas históricas sobre a imagem da mulher, percebe-se que a mulher já esteve na posição de deusa, presumia-se que a maternidade fosse um ato divino. Depois, quando o homem percebeu sua responsabilidade pela gravidez, a mulher passou a ter que ser “possuída e trancafiada” para garantir a paternidade a esse homem. Durante a maior parte da história a mulher foi excluída da vida pública e considerada um homem incompleto. Com o romantismo surgiu a mulher enaltecida. “O romantismo foi, efetivamente, o movimento que deu projeção à mulher, tornando-a mais respeitada e com alguma importância social”, afirma Cristina Costa em A Imagem da Mulher. O movimento romântico fez parte de um movimento do clero no século 16 para amenizar o intenso clima de guerra que dominava a Europa.
No século 18, com a preocupação sobre os direitos do indivíduo, a educação foi valorizada e trouxe poder a maternidade novamente. A mulher voltou a ser líder na família e o homem líder nas situações sociais. E assim chegamos até os dias de hoje.
Esse é o legado cultural que nos restou. Mas agora, que sabemos existir um paradigma patriarcal inconsciente, o que podemos fazer? Como psicóloga aconselho a conhecê-lo e aceitá-lo como real. Ai então poderemos refletir sobre ele no contexto atual .
Viram como o tema é complexo? Se não fosse o dia internacional da mulher, provavelmente a sobrecarga das nossas atividades cotidianas não daria tempo para esta reflexão. O outro conselho que ouso dar é para que nos amemos mais com nossos limites, fragilidades e por que não dizer, nossas maravilhosas diferenças .

domingo, 28 de fevereiro de 2010

O ambiente sócio-moral e sua influência no desenvolvimento infantil.

O ambiente sócio-moral e sua influência no desenvolvimento infantil.

Conforme prometi seguem mais alguns conceitos do livro Ética na Educação Infantil, o ambiente sócio-moral na escola, de Rheta DeVries e Betty Zan. Podemos começar definindo o que significa o termo sócio-moral no livro. Sócio diz respeito às convenções sociais, regras de boa educação que regem o comportamento dos indivíduos de uma sociedade. Moral é o respeito às idéias e desejos do outro. A criança sócio moral não é aquela que obedece cegamente os adultos, a criança moral é aquela que segue as regras conscientemente em respeito aos que convive. Quando alguém segue essas regras fica difícil saber se a intenção é evitar punições e receber elogios ou é respeito e consideração pelos indivíduos com os quais convive. Por isso o termo é inseparável.
A criança pequena entende as regras de acordo com o seu nível intelectual e sua experiência através da convivência, dentro da família e na escola. Dentro da família ela aprende as regras privadas do grupo familiar. Não é sempre que as regras privadas coincidem com as regras do espaço público. Por exemplo, cada família tem suas próprias regras para a hora da refeição, pode-se comer com o prato na frente da TV, dentro do quarto, individualmente, a qualquer hora que se sinta fome, na mesa com os outros, lendo o jornal, etc... Já no âmbito privado, as regras à mesa são claras e rígidas. Portanto nem sempre se aprende todas as regras sociais em casa. É na escola que a criança convive com seus iguais, hierarquicamente falando. E, para que esse grupo maior e de direitos iguais, possa conviver bem é preciso combinar regras. É nessa negociação que começa a aprendizagem sócio-moral. É na hora da conversa, do infantil até o fim do ensino fundamental, que os alunos podem ser auxiliados a cooperar e a negociar. Como eles têm dificuldade em se colocar no lugar do outro, é na conversa que cada um conta ao outro como se sente em relação às brincadeiras de “mau gosto” ou à exclusão de uma brincadeira ou às fofocas maledicentes e combinam regras sobre estes assuntos e outros como: o uso dos materiais da sala, ambiente na hora do trabalho, e muitas situações que convivem com o cotidiano de uma classe. Esses aspectos, se não resolvidos, podem influir na aprendizagem acadêmica, portanto, quando surge um conflito, longe de entregar para alguém fora da sala resolver pensando em por para longe o que pode atrapalhar a aula, deve-se encará-lo de frente. Quase sempre é necessário resolver o problema conversando sobre ele e aproveitando para permitir que os alunos exercitem a construção da moral.
Fazendo um parênteses, uma forma de controlar o ambiente escolar para esses momentos de construção da moral é promovendo assembléias escolares, essa é a minha experiência pessoal há cinco anos, promovendo assembléias do 2º ao 9º ano. Tema do professor Ulisses Araújo, da PUC de Campinas, e com quem apuramos uma prática que exercíamos desde o início dos anos 90, através de suas publicações e de sua palestra em São José dos Campos em 2005. Construtivistas desde 1986, sempre entendemos a moral como um objeto de conhecimento, com o qual o aluno precisa interagir de forma curricular, assim como interage com a língua escrita e a matemática. “A moralidade se constrói assim como o conhecimento do mundo físico” e este é um dos paralelos entre os estudos das autoras e as pesquisas do desenvolvimento moral de Piaget.
A sugestão das autoras é a Roda da Conversa, momento em que decidem, combinam regras e discutem dilemas morais, não com o intuito de resolvê-los, mas para exercitar a argumentação e ouvir opiniões divergentes.
Piaget definiu moral como “um sistema de regras internalizado, e que o indivíduo segue como um princípio necessário para a vida em sociedade”. Voltando ao livro, para chegar ao grau máximo de internalizar essas regras como um valor, será preciso passar pelos níveis que Selmam, 1980, elaborou sobre o trabalho de Piaget . Esses níveis, vão da perspectiva egocêntrica (incapaz de pensar em outro ponto de vista que não o seu próprio) ao domínio do entendimento interpessoal. O professor tem como trabalho conhecer esses níveis e intervir para que o aluno progrida para um nível superior.
Selmam chamou de níveis e não estágios porque ao contrário do conhecimento físico, o indivíduo sempre poderá regredir ao nível inferior dependendo da carga afetiva envolvida. Ao professor cabe ajudar os alunos tanto na explicitação do conflito, aos quais muitas vezes falta clareza, quanto a guiá-los nas decisões do grupo, explicitando aquelas que fogem ao bom senso. “Neste ambiente o professor pede, sugere, persuade, ao invés de dizer, mandar, controlar”. A medida certa entre guiar co-operando e guiar mandando é a dificuldade deste trabalho, para o qual, há de se ter um perfil que reflita um real comprometimento com a teoria.

A influência deste ambiente no desenvolvimento da criança conforme fundamentam as autoras, é que “quando os adultos permitem que as crianças pensem e decidam sobre as regras, ajudam no desenvolvimento de um “self”(noção de si mesmo) seguro e estável” enquanto que o ambiente escolar coercitivo, cheio de regras autoritárias, “propicia indivíduos inseguros, sem autonomia, que podem reagir com submissão, raiva ou dissimulação, por não entenderem as crenças e os valores das regras que lhe são impostas. A coerção limita a mente, personalidade e sentimentos das crianças”.

O ambiente escolar deve propiciar um ambiente sócio-moral construtivista, fortemente embasado em conhecimento teórico. Só a nossa aprendizagem sobre a construção da moral, será capaz de quebrar um paradigma, construído através de anos em escolas que negavam o relacionamento entre alunos.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

O que vem a ser ambiente sócio-moral na escola.

Não tendo desculpa para tamanha ausência de textos vou tentar me redimir com a resenha de novas releituras.
Sem prometer tamanha disciplina, me atrevo a dizer que segue a primeira.

É muito bom ter novos desafios, no final do processo você sempre sairá modificado por novos conhecimentos. Mas também é muito bom quando você lê sobre um tema que você já conhece, desenvolve um trabalho e a leitura dá nomes e cita experimentos que comprovam que estamos no caminho certo há muitos anos.

Foi o que aconteceu com a leitura do livro a Ética na educação infantil, o ambiente sócio-moral na escola, de Rheta DeVries e Betty Zan, um livro que li e resumi para dar aula em cursinho para concurso de professores.

Ao tomar conhecimento deste livro na bibliografia do concurso já fiquei muito feliz porque sempre acreditei ser este ,um tema fundamental para qualquer educador que se atualiza. Parabenizo os organizadores da bibliografia quanto, não só este, como todo o conteúdo exigido, muito embora, por experiência no trabalho com professores, este conteúdo bibliográfico, por representar uma mudança no paradigma escolar, leve mais de uma década para ser inteiramente compreendido e quiçá um dia ser incorporado à prática de um educador.

As autoras são seguidoras de Piaget, produzindo literatura a respeito de assuntos que contribuem para a prática construtivista, que eu conheça, desde a década de 80. Este livro é de 1994. Eu já o possuía e havia feito uma leitura casual, mas ele, como todos os livros construtivistas, têm que ser lido com profundidade.



Deixando de lado as considerações, vou tentar escrever sobre a idéia central deste livro genial de trezentas e poucas páginas.

O que vem a ser ambiente sócio-moral na sala de aula?

Trata-se de um ambiente proporcionado pala postura do professor, que se propõe a respeitar o aluno física, emocional e intelectualmente.
O ambiente que respeita o aluno fisicamente é aquele adequado as suas necessidades fisiológicas como por exemplo comer, ir ao banheiro, repousar, referentes a faixa etária, aos cuidados ambientais adequados em todos os sentidos ( organização, higiene, clima, espaço, mobiliário, iluminação, etc...). É incrível a dificuldade dos professores em permitir ao aluno ir ao banheiro quando este solicita.

O ambiente que respeita emocionalmente é aquele que permite e incentiva o aluno a falar de seus sentimentos no seu nível de desenvolvimento, e que o professor conheça a teoria de desenvolvimento sócio-moral e possa intervir adequadamente para que o aluno progrida para um nível superior. Este ambiente inclue aceitação incondicional, inclusive da criança “difícil” ( considerada pela autoras aquela que coloca os outros em perigo e perturba as atividades da aula), empatia e regras claras. Longe de ser um ambiente de liberdade total porém sem dúvida um ambiente democrático, uma vez que permite, sob a tutela do adulto, que as crianças pensem e deliberem sobre suas próprias regras. O termo sócio-moral combina as regras sociais ou convencionais de boa educação com o termo moral entendido como o respeito aos sentimentos e desejos dos outros; assim como o cumprimento das regras como necessidade para a boa convivência.

Respeitar o aluno intelectualmente, quer dizer, conhecer o estágio de desenvolvimento cognitivo de seu aluno e propor atividades adequadas, conhecendo o raciocínio infantil e fornecendo a base para o seu desenvolvimento. Para isso o educador deve conhecer a teoria de Piaget tanto no que diz respeito ao sujeito que aprende quanto à hierarquia de conhecimento do objeto de aprendizagem, do qual ele será mediador na interação sujeito-objeto.

Mas, o mais importante é que ao proporcionar um ambiente sócio-moral estaremos auxiliando a formar um indivíduo autônomo, finalidade de toda a educação. Este sujeito será ativo moral e intelectualmente, autor da própria aprendizagem, numa progressão apenas imaginável no sonho de um educador.

Para Piaget, o ambiente que permite pensar e decidir sobre as regras ajudam, no desenvolvimento de um self ( noção de si mesmo) seguro e estável, ao contrário do ambiente autoritário, onde o professor detêm o saber e o aluno espera dele o sinal para aprender, que propicia indivíduos inseguros, heterônomos (regulados por outrem) que podem reagir com submissão, raiva ou dissimulação.
Bom, agora que já foi dito “o quê” e o “porquê”, resta o “como” fazer isto em sala de aula.
Como trabalhar isso no dia-a-dia?


Pra quem não conhece e não pode fazer uma visita na escola EMAK, resta esperar um novo texto, sem o qual o livro que me propus relatar permaneceria injustamente incompleto.